domingo, 1 de novembro de 2009
Sobre a repetição
Compreendo que esses erros se repetiam mais uma ou duas vezes.
Insistir na estupidez, infelizmente, deixei de acreditar...
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Daquilo que está para vir
A fragilidade do corpo e das estruturas enviam-nos para destroços de guerra, para sítios inacabados onde a imaginação não concluiu tarefas, para edifícios devolutos onde a memória impregnou marcas através do sangue dos que morreram e dos que ficaram para contar a história. hoje, não procuramos narrar um processo nem fazer uma viagem explicativa pelos meandros do pensamento que aqui nos conduziu. Vivemos também da sensação última e limite que nos provoca a experiência temporal e geográfica da partilha dum espaço comum. e neste caminho tantas foram as vezes em que o tempo e o espaço perderam o seu sentido mais imediato.
Assim se lançam as primeiras pedras para a construção de uma casa. Uma casa, literalmente, o sítio onde nos encontramos. e se construir uma casa for um gesto tão simples como o desejo de comunicar, chegar perto da verdade do espectador que inadvertidamente acabou enclausurado num teatro? Aqui procuramos a surpresa, o choque do confronto entre a identidade do intérprete e a identidade do espectador. Procuramos acima de tudo questionar o erro e assumi-lo. Procuramos sublinhá-lo. Procuramos o erro por si só. Correndo o risco da derradeira queda, do derradeiro fiasco, chegamos com a convicção última de acreditar no teatro como um espaço interventivo e urgente onde a mais premente razão de construir um objecto artístico é o valor humano de viver.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A primeira parte dos pequenos prazeres da jovem incendiária
No Inverno acendia-se sempre a salamandra. Ficava dias sem parar sentada em frente ao fogo que consumia as madeiras secas da garagem. Até o fumo fazer os olhos arder. Até já não se poder ver. Até o corpo suar tanto que parecia Verão. Até caírem lágrimas perante o espectáculo. Mas desta vez, desta vez a culpa não era minha. Não tinha sido eu a incendiar a estante e estava por isso muito agradecida a quem quer que tivesse despoletado esta incrível visão.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Sobre fazer primeiro aquilo que se devia fazer depois
Depois precipitei-me para longe de ti porque me cheiravas a coisa estranha e desalinhada. Trocamos palavras, e a partir de hoje vamos construindo a nossa história.
domingo, 11 de outubro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Suor e consequências
Está calor. As coxas continuam suadas. Como depois do sexo. Agora diz-me, quando te encontrarem a boiar junto à costa saberão que fui que te empurrei? Saberão isso porque me beijaste antes de cair? Ou saberão simplesmente porque sim, porque essa seria a única possibilidade? Cúmplices na tua ou na minha desgraça; no teu ou no meu desejo? Tantas mentiras e nem por isso menos entusiasmo. Serias capaz de nadar se o mar fosse de verdade ou ias deixar-te afogar como fazem os fracos sem sangue? Bebeste o que restava do meu porque o fui doando a todos os que passaram. Já não tenho sangue, nem cabelo, nem palavras na boca para as dizer. Só tenho calor e mesmo que me tente lembrar do frio do chão de tijoleira nas minhas costas o calor não passa. Como se fizesse amor contigo há muitos dias, anos talvez, sem nunca parar. Nem para cigarros. Fumo quarenta por dia, sabes? Por isso é que a boca amarga quando me beijas. Não me pedes nada e entre nós isso é recíproco. É, na verdade, a única coisa bonita que tivemos juntos. Nunca pedimos nada um ao outro. Mesmo quando a tua palidez te fez desfalecer na minha sala.
Está calor. Tenho as coxas e as mãos suadas. Escorrega-me tudo. Já parti dois pratos: o que devias ter levantado antes de morrer e o que eu devia ter levantado antes de morreres. É esta porra deste calor que faz cair tudo das mãos. Até tu que estavas nos meus braços me caíste à água. Eu pensei empurrar-te mas não quis empurrar-te, percebes a diferença? Por isso, posso dizer que me escorregaste por causa do calor e do suor das mãos. Ou achas injusto? Tu que me bateste com esses braços de homem forte mil vezes sem nunca deixar marca; tu que me deixavas à espera durante a noite para que talvez chegasses, pálido e suado de outras mulheres? Eu sempre soube que daí vinha pouca coisa, ou nenhuma sei lá. Mesmo naquele dia em que corri por causa da faca, vieste salvar-me? Deixaste tudo para me proteger? Nunca. Eu que me salve sozinha que se já posso dar beijos na boca também posso defender-me. Deves ter tremido de entusiasmo só ao imaginar a faca a trespassar-me a pele. No meio dessa miragem viste algum sangue? Diz-me camelo se viste algum sangue, porque se viste o meu não era te garanto. Bebeste-o todo porco! Tinhas sede porque estava calor e vá de beber o que era meu.
Mãos de amor
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Cacilhas às 02:00
E com tantas coisas que quero sempre dizer, hoje fiquei sem pio!
sábado, 29 de agosto de 2009
Aos remosos em noite de vinho
No fim, ficou a culpa que não é nada. De quem é a culpa afinal? Minha? Minha?
Quero repetir a desgraça. Talvez seja esse o grande lugar do arrependimento.
terça-feira, 25 de agosto de 2009
A ti, pássaro de voos.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Os dias da felicidade
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
A guerra (em crise) e os 1679 dias para o cessar fogo
domingo, 9 de agosto de 2009
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Os revivalismos de Strindberg ou o reconhecimento da dor...
Amor eterno, digo. Se bem que curto.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O anti-manifesto que antes de ser censurado era só manifesto...
É a hora, dizia o poeta.
É A HORA...
quinta-feira, 21 de maio de 2009
O pessegueiro
segunda-feira, 23 de março de 2009
Vem buscar-me que não durmo
SUPER HOMEM D'ASAS D'ANJO
Entretanto, caminhos, caminhos sem cessar. Milhares de rotas, milhares e milhares e milhares de rotas, todas as possibilidades. Como escolher? Sem poder não há escolha. Sem escolha não há fim para onde se possa caminhar. O infinito estóico, heróico derrubou as vicissitudes do poder; amedrontou aqueles a quem se atribuí a força última e derradeira. Nos mortais, a quem sempre restou a esperança de serem salvos, reside agora a inevitável necessidade de auto-suficiência. Querem viver para sempre, querem a imortalidade, a força bruta e eterna. Conhecem o mito da pedra filosofal. Alguns têm o mapa que os conduz até lá, até à tão querida eternidade. Desconhecem o que os espera, desconhecem a malícia deste Deus ex-machina que descaracterizou o mundo: o profeta anunciou a vinda de um homem - quem sabe um herói - que nos resguardaria da desgraça. Pelo contrário, descaracterizou-se o homem e a comunidade, outrora fértil, vendeu as palavras a um diabrete mascarado de criança. Ficámos sem ter o que dizer em troca da eternidade. Foi esse o preço que restou para pagar.
Desde o dia do contrato, passaram 24 horas em que ninguém no mundo morreu. E no dia seguinte, serão 48 horas em que ninguém morrerá. E todos os dias que passarem serão mais 24 horas, até um dia serem anos, até outro dia ser a eternidade. O mundo estará cheio de gente enferma, de gente à beira da morte que nunca morrerá, de estropiados e de cegos que desejariam mais facilmente morrer do que viver para sempre. Nesse dia, o mundo será apenas um amontoado de outrora mortais combalidos pela desgraça. Isto tudo porque um dia, um dia há muitos anos atrás, os heróis trocaram as capas por umas asas; isto tudo porque um dia, um dia há muitos anos atrás, os homens quiseram brincar ao jogo da eternidade.
domingo, 22 de março de 2009
Tarifa: 1,40€
Era hoje que devia despedir-me de ti...
Desculpa se sou tão inábil.
Hoje é apenas o dia em que te anuncio a despedida.
Deseja-me uma boa viagem se puderes.
Não quero voltar atrás.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Da aprendizagem
talvez seja mesmo,
mesmo necessário
que me ofereçam uns sapatos
para que eu possa finalmente
aprender a a andar.
Quando eu crescer
e tu cresceres,
haverá ainda rosas suficientes no mundo?
Lembro-me do dia em que aprendi a fazer arroz;
e só por isso era capaz de me casar contigo.
Puseram-me um carro na mão
e eu matei dois pássaros:
depois fui tirar a carta.
Ainda hoje não sei falar como as pessoas crescidas;
há sempre um assobio na minha voz
que lembra o tempo em que era pequena
e rosada.
Não sei dizer palavrões,
e não é por ser muito bem-educada.
Aprendi a andar de bicicleta
muito tarde
e nem por isso
deixei de pedalar à beira-mar.
O cheiro a praia
do teu pescoço ensinou-me
a esperar pelas ondas maiores
para mergulhar.
Parte I das pequenas histórias sobre a felicidade
***
Dia de piquenique. Três horas, a relva parecia reluzente e fresca; bastava passar o vento para que a cor ondulasse entre a discrição e a excentricidade. A toalha branca estava estendida, como se aquele fosse o seu lugar desde sempre e não outro para além daquele. O ruído abandonara há muito aquele local, fazendo questão de deixar suspenso apenas o som do Verão entre o assobio dos melros e o riso distante de três ou quatro crianças cujos pés estavam descalços. Dentro da cesta de verga, havia uma garrafa de vinho e algumas maçãs.
Quando o dia decide findar em tons de púrpura, o regresso a casa mostra-se inevitável, mesmo quando a vontade nos desafia a mais umas horas de conversa fiada. A travessia é geralmente solitária. Mas há dias, aqueles dias, em que o acaso transforma o regresso a casa no mais terno momento da jornada. Aqueles dias em que inesperadamente a viagem de comboio nos entrega um amigo como brinde.
O salão estava quase deserto. Três ou quatro luzes faziam sentir-se no meio do fumo. A música lembrava anos que não os de agora. Três mulheres sentadas, copos e cigarros na mão. A linguagem corporal correspondiam à deselegância de não saber o que fazer. Castiças! Bocas vermelhas e sem saber onde pôr as mãos. No fundo do salão uma cortina pesada de veludo vermelho escondia objectos velhos. De súbito, uma mulher e um homem acompanham, quais bailarinos de longa data, a fanfarra gravada e emitida por umas colunas de fraca qualidade. As três mulheres sentadas, ficam perdidas, em suma, deslumbradas pela visão do amor.
Os pais não estavam em casa e as desculpas para evitar aquele segundo em que o desejo atravessa a razão acabariam por se esgotar mais cedo ou mais tarde. Puxaram as cortinas até meio das janelas para que a sua viagem não fosse a perda de pudor dos vizinhos. Deixaram instalar a música do desconforto. Primeiro tiraram as camisolas e observaram-se como se aquela fosse a primeira vez. Em poucos minutos, não havia nada que lhes cobrisse os tenros corpos. A vergonha impediu-os de avançar até que as consequências fossem últimas. Sem pudor e sem falar, deram as mãos e adormeceram. O que havia para dizer, foi dito durante o sono.
O que havia de melhor nas suas idas ao teatro era esperar que todos saíssem da sala para que, por fim, ele pudesse ver toda a magia quebrar-se no escuro.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Hino à desgraça: à boa memória de quem faz falta...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens...que ser assim?...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim?...
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
António Variações
domingo, 8 de março de 2009
Bombons
Como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores.
Aquilo que define as mulheres é achar que todos os homens são iguais, enquanto que aquilo que perde os homens é achar que todas as mulheres são diferentes.
O relógio não existe nas horas felizes.
A água não tem memória: por isso é tão limpa.
Velho actor: deixou uma dentadura que declamava Shakespeare.
As rosas suicidam-se.
Aquela mulher olhou-me como se eu fosse um táxi livre.
Se ides à felicidade, levai sombrinha.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
O carácter passageiro do amor ou a conservação da antiguidade
Adeus!
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
A história que não sei contar ou o nascimento do verão em fevereiro
domingo, 22 de fevereiro de 2009
o sonho americano
I'm gonna see some folks who have already been let down
I'm so tired of America
I'm gonna make it up for all of The Sunday Times
I'm gonna make it up for all of the nursery rhymes
They never really seem to want to tell the truth
I'm so tired of you, America
Making my own way home, ain't gonna be alone
I've got a life to lead, America
I've got a life to lead
Tell me, do you really think you go to hell for having loved?
Tell me, enough of thinking everything that you've done is good
I really need to know, after soaking the body of Jesus Christ in blood
I'm so tired of America
I really need to know
I may just never see you again, or might as well
You took advantage of a world that loved you well
I'm going to a town that has already been burnt down
I'm so tired of you, America
Making my own way home, ain't gonna be alone
I've got a life to lead, America
I've got a life to lead
I got a soul to feed
I got a dream to heed
And that's all I need
Making my own way home, ain't gonna be alone
I'm going to a town
That has already been burnt down
Rufus Wainwright
sábado, 21 de fevereiro de 2009
a ciência dos meus sonhos
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
sábado, 31 de janeiro de 2009
As minhas verdades absolutas: pelo menos as de hoje...
Esperar é uma angústia.
Aos quinze anos eu era mais feliz do que sou aos vinte.
Os meus desvarios épicos são cansativos.
O amor não existe: pelo menos o meu.
Não posso continuar a imaginar coisas que nunca vão acontecer.
Não posso fazer tanta força nos maxilares para não chorar.
Tenho uma amiga resistente a terramotos: aqui onde estou há vários.
Deus morreu; eu matei-o.
Preciso de roupa quente.
Quando for grande quero ter um Bando de...
Amanhã quero acordar mais leve.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A origem da fé
A criança já tem vinte anos. Vinte anos em que recusou Deus, Evas, maçãs e Judas. Vinte anos tentando repudiar qualquer ideia de morte ou de continuidade para além do corpo. Quando era pequena e todos os meninos da escola foram baptizados, ela ficou em casa sem perceber porquê. Também não perguntou. Em casa, não havia dicionário de teologia, mas a criança viu muitas vezes em cima da mesa de cabeceira do pai O Manifesto Comunista do Karl Marx. Poucas coisas fizeram sentido na altura. Quando a criança amadureceu, como a maçã, descobriu que Deus, Cristianismo, Maria Madelana, Maomé, Natal, Páscoa, morte e ressurreição, vacas sagradas, reencaranação e budismo faziam parte de todo um hemisfério por desbravar. E mesmo quando a criança leu muito sobre todas as problemáticas, mesmo depois de ter ido a Fátima e de ter acendido uma vela pelo avô que nunca conhecera, mesmo depois de ter aprendido algumas rezas que decorava como lengas-lengas e mesmo depois de ter feito de ovelha no presépio de Natal da escola, a criança continuou sem perceber que coisa era aquela tão grande que movia tanta gente, e estranhamente a si própria. Entrou em muitas Igrejas, sentiu-se muitas vezes devorada pelo espaço, comovida pela luz que entrava pelas frestas centenárias das janelas. Um dia quando deixou de ser criança, fazia frio e era Inverno em Lisboa. Levava as mãos enlaçadas num homem que amou muito. Entraram na Igreja que em tempos fora devorada pelo incêndio e que assim permanecera, consumida pelo calor do fogo, sem mãos que a recuperassem. A criança que já não era uma criança, voltou a sentir-se tão criança como quando estava no útero da mãe que a gerou. O espaço que a derrubou e a tornou minúscula, trouxe-lhe à memória os traços do amigo que morrera quando tinha dezasseis anos, do avô, do outro avô. O coração rompia no peito como se a qualquer instante pudesse parar. A luz cinzenta colava-se aos lábios e num instante, nem sequer isso, milhares de mulheres cantavam nas paredes fazendo entoar ecos distantes. Sentiu-se esmagada. Deus aconteceu. E então, a criança descobriu que esse esmagamento que lhe apertava o peito, era somente a percepção de que a maçã gerou o amor entre os homens e de que os homens, na sua própria condição, são capazes de acreditar nos gestos, na linguagem, nas palavras. Aos vinte anos, a criança descobriu a fé: em Deus? Nos Homens? A sua fé de criança, a sua fé prematura diz-lhe que Deus foi uma invenção astuta dos seres humanos para poderem justificar a existência do amor.
As potencialidades do amor
domingo, 18 de janeiro de 2009
Os inesperados
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Sobre os relógios congelados pela frente fria
beber a água
mais funda do teu ser -
se a luz é tanta,
como se pode morrer?
Eugénio de Andrade