quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Origem da Tragédia de Friedrish Nietzsche ou o dia mais quente do ano

Eu tinha um vestido amarelo e a certeza de que acabarias por chegar um dia. Era Verão e o calor fazia-me transpirar debaixo dos braços. Os pés inchavam sempre e as veias latejavam gordas entre os tendões e os ossos escondidos debaixo da pele. Sentia as pernas coladas uma à outra. Não me lembrava bem da tua cara. Lembrava-me antes do dia em que nos tínhamos conhecido: tu usavas uma camisa riscada vermelha e citavas Nietzsche. A tua voz era terna mesmo quando falavas de mortos e me descompunhas por ser tão saudosista. Contudo, o vestido amarelo que pusera naquele dia garantia-me que acabaria por reconhecer-te no meio das multidões, porque também naquela primeira noite em que falamos sobre a morte de Deus, eu senti o cheiro viril do teu pescoço que se entranhou na minha pele, ainda que a onda quente do Verão fizesse questão de lavar a tua memória com o suor dos poros e o desconforto das queimaduras.

Sem comentários: