quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Os tios e as Marias...


Estreamos ontem...

Hoje não reconheço em mim as sensações desse dia. A expectativa passou e aquele senhor tolo e atento que cheirava a vinho quase aniquilou o momento em que o delírio é maior que a realidade. Estreamos ontem e chegam agora dias em que seremos aquelas pessoas e depois as pessoas que somos quando as luzes caem.
Encontros e desencontros no campo com o Tio Vânia, Teatro da Trindade
29 de Out a 16 de Nov, Qua a Sab 22h, Dom 17h


Eles também estrearam ontem...
Corri para o teatro onde a visão do castelo é quase tão fantástica como a lua. Eles têm uma odisseia pela frente e sorriam como pássaros quando os encontrei na varanda onde fumamos cigarros. A noite estava gelada mas havia vinho, depois do vinho, finalmente o delírio.

António e Maria, Odisseia Cabisbaixa, Teatro da Garagem

29 de Out a 30 de Nov, Qua a Dom 21h 30



Estou apaixonada pelo teatro à falta de paixões outras...

Feliz...?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mensagem recebida às 05h47m: "Preciso de falar contigo..."

Identifico um problema com a comunicação contemporânea: as conversas importantes são tidas via sms ou telefonicamente. Não haveria grande perigo nesta instauração se não existissem mal entendidos. O grande problema é o seguinte: a nossa incapacidade para verbalizar a verdade perante situações adversas deveria diminuir com o uso de mecanismos automáticos de conversação. Mas mesmo atrás deste perfeito subterfúgio ou mecanismo de segurança, conseguimos criar discursos tão extraodinárimente confusos que geramos uma problemática ramificada: não só damos espaço para a existência de mal entendidos, como também protelamos a nossa incapacidade de tomar decisões em tempo real.
Mesmo assim, tenho de fazer um telefonema...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

as novidades: os inevitáveis encontros de Maria e José

-J: Nunca disse que te podias apaixonar M, mesmo que assim o tenhas entendido... Nunca te disse... Nunca!

domingo, 12 de outubro de 2008

L.L.L.: A leveza da liberdade lisboeta

Viver em Lisboa é bem melhor do que viver nos suburbios. A rua cheira a gente. A calçada é escorregadia. Posso chegar a casa a horas indiscretas. Ando sozinha. Converso horas com o amigo Francisco que não encontrava há anos (anos?).
Os ensaios começam e sem dar conta chegam as memórias de uma temporada inesquecível lá para os lados da Graça. A temporada que agora se avizinha mostra-se já inesquecível também: muitas crianças, homens, mulheres, - quem sabe? - cheios de vontade de reconstruir uma história simples, desta vez para os lados da Trindade. Dez minutos a pé desde o Príncipe Real e o mundo é outro, é o mundo do faz de conta que sabe bem à alma.
A amiga Ana oferece a casa, a cama, o espaço a que é tão bom voltar quando a vida está numa volta estranha. A Ana é um pequeno anjo amigo que constrói com fósforos a casa mais estável onde poderia estar neste momento. A Ana é amiga da vida, para a vida. Uma vez aqui, o regresso torna-se difícil. Lisboa é a minha cidade de agora. Não quero outro sítio para estar. Não quero fazer outra coisa senão esta de cirandar entre teatros bafientos e casas amigas.
Vim procurar a felicidade na cosmopolita terra. Tenho de encontrá-la que a hora tarda. Tarda em chegar o momento da leveza...

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Três vezes um igual a zero (3 x 1 = 0): pequeno jogo de lógica sobre o amor



Todo o amor é mortal.
Eles são amor.
Logo, eles são mortais.

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AMOR COM AMOR SE PAGA.

domingo, 5 de outubro de 2008

o táxi: os inevitáveis encontros de Maria e José

-J: Não tenho carro, nunca aprendi sequer a conduzi-los. A constante embriaguez provocada pelo álcool e pelo amor tem sido um impedimento para a obtenção da minha independência locomotiva. Entendes, M? Ando a pé. Geralmente ando a pé. O rumo é quase sempre incerto. A luz branca do néon atrai-me; muitas vezes vou de encontro ao encontro dessa luz. Há homens surdos nesses sítios, homens surdos com headphones. Nunca consegui perceber o que ouvem eles. Tu sabes, M? Sabes que música é a música destes homens? Estão sempre sozinhos debaixo de um enorme foco branco e estou sempre a encontrá-los porque ando muito a pé. Não tenho carro. Não quero... Tens carro, M? Conduzes? Não gosto de carros. Não entendo como podem as pessoas fazer amor lá dentro; não entendo como podem duas pessoas que se amam amar-se dentro de um carro. Tu deves entender, não é M? Tu já fizeste muito amor, filhos lindos talvez. Já amaste muitos homens dentro de carros, mas nunca chegaste a entrar dentro das casas deles porque dentro das casas deles havia uma mulher e três ou quatro crianças famintas e fotografias de família tiradas em tardes de domingo. Fazias amor com eles nos seus carros e eles regressavam aos seus pedaços de normalidade. Não era assim, pequena virgem?
O meu conceito de amor foi destruído pela tua chegada. Tu não existes, és só a pequena invenção dos meus olhos de dentro. És só um pequeno delírio poético e eu não tenho mãos para amparar as tuas quedas porque tu não tens corpo. Criatura demasiado serena para morrer nos meus braços. Dentro de dois dias, não mais, vais encontrar-me sem roupa, pedaços amontoados numa rua suja da cidade. Vou dizer-te que não me sirvo e que não sirvo para ninguém. Vou negar-te as minhas sobras; que essas restem para as putas. Um dia até, querida M, querida virgem?, vou ser sugado pelo vento que jorra das bocas do metro e não voltarei a ser encontrado. Vou morrer dentro da boca do metro. Dois, três dias M, não mais. Agora, neste instante congelado em que te abraças a mim dentro de uma cabine telefónica vou pedir-te uma vez mais que venhas comigo. Vens, M? Vou pedir-te que me resgates da morte certa que não quero morrer já. Não sei viver porém. Mas tu, M, tu sabes como são essas coisas da vida. Tenho a certeza que já viste muitos países e que já alguém quis casar contigo. Ficavas linda com o vestido branco decotado, cabelo apanhado com pérolas.
Chegaste até mim como vento de norte; estou certo que vieste resgatar-me da morte. Vou afundar as minhas vísceras, o meu fígado em toneladas de vinho fermentado para ficar à espera do fim com menos dores. Não é no coração que me dói, é cá dentro naquilo que deve ser o meu útero, a minha fertilidade. M, pequena virgem, tu és o amor. Que o amor me salve desta podridão para a qual caminho todas as noites. Vem comigo M. Eu não sou como esses homens que te desventraram as pernas. A minha casa está só: não há nela histórias de outras mulheres, embriões nem cartas de amor desesperadas. Nunca nenhuma mulher entrou no meu quarto. Tu M, nunca entraste no quarto de nenhum homem. TÁXI... TÁXI! Rua 3, nº7, terceira varanda à direita. Vem M, vem povoar o meu asilo de memórias.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

de querer muito alguém, de não saber do amor ou a falta de credibilidade poética: os inevitáveis encontros de Maria e José

-J: Prometo M... Prometo...

o segredo do pássaro M: os inevitáveis encontros de Maria e José

-M: Uma vez encontrei-te J. Encontrei-te junto a uma parede suada. A sombra das tuas mãos desenhava um enorme pássaro no horizonte. O pássaro ficou preso nos teus dedos cansados, J. Sou eu, M, esse pássaro. Se ficar por aí engaiolada nas tuas mãos, terás de dançar comigo sempre que a solidão me atacar, se decidires soltar-me terás de ser tão firme como a parede que delineia a nossa sombra: não pode restar nada, que asas partidas nunca fizeram bem a nínguem.