sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Marcha fúnebre

Não conheço este lugar. Não conheço este lugar onde não há medo. Não ter medo é assustador. Não é este o lugar onde me materializo. O meu corpo está desfasado do espaço, eu estou desfasada do tempo. Nem sei ao certo quando aconteceram todas as coisas que me deixaram de luto. Parecem meses, anos e foi tudo ontem. Foi apenas ontem que vivi todas as coisas que constroem a minha memória funerária. Não me pertenço em nada daquilo que são os meus gestos e os lábios conduzem-me geralmente a palavras que não são as da minha boca. Fico à espera das horas em que o alívio me conduz ao prazer de continuar viva perante a catástrofe. Não há nada de trágico nesta procura, são só inspirações para o devaneio artístico. Não há nada a fazer em relação à minha tristeza: ela não é complexa nem fruto de uma miséria insuportável. E talvez se assim fosse, qualquer explicação seria mais racional do que este caminhar lento para a inércia. É preciso trabalhar, fazer as coisas. Nada mais há a fazer quando deixamos de nos reconhecer.

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