sábado, 20 de setembro de 2008

fé n.º 38: os inevitáveis encontros de Maria e José

-J: Pudesse eu encontrar-te agora M. Conhecesses tu o meu amor, os meus lugares de culto. Eu queria levar-te ao único sítio onde encontro o Deus que me roubaste. Se viesses comigo, reencontrar-vos-ia aos dois. Levaste a minha fé, M. Levaste-a, M. Exijo que ma devolvas, exijo que me devolvas a possibilidade de sonhar contigo. Para onde levas tu a minha fé, que queres tu dela? É minha M. Arranja a tua; arranja uma fé que te sirva. Arranja uma capela acimentada no meio da realidade citadina onde as pessoas choram quando se canta em playback. Arranja uma capela minúscula onde são dez os crentes que lá entram, não mais que dez. Arranja uma capela que suporte a tua ausência e não invadas um espaço que é meu: não permito que entres no meu balcão imundo cheio de restos; muito menos permito que invadas a minha capela, o meu único devaneio antes da loucura das noites loucas, o meu único segredo antes das mil mulheres que me caem nos braços. Fico aqui, a chorar pelo teu amor, ansiando o segundo em que heroicamente invadirás todos os meus espaços, mas não permito que o faças. Estou velho para que me queiras mudar, estou velho para querer mudar. Dancei noites demais sozinho como um bicho, estive só o tempo todo que foi tempo que passou, a única coisa que me pertencia era Deus, esse Deus que desconheço de onde vem: vieste tu M, vieste tu arrancá-lo de mim. Com que direito M? Com que direito vieste de encontro ao meu segredo? Vou procurar-te pela cidade inteira, vou arrancar-te das estações de metro, dos comboios amontoados, vou entrar em todos os cafés, em todos os becos, em todos os sítios de culto que não me pertencem e vou encontrar-te, vou encontrar-te para saber que não espalhaste a notícia da minha fé: há afinal esperança em mim para a mudança. Quando te encontrar M, vou levar-te comigo, vou desafiar-te ao encontro do meu Deus roubado que te pertence agora, mas que é um estranho não mais do que isso. Quando te encontrar M, hoje mesmo ainda na cabine telefónica onde te deixei, vou levar-te à minha capela. Vou revelar-te a única coisa em mim que não repugna, que não cheira a comida. Vou procurar-te, agora mesmo. Sei que não estás longe, a maresia anda por perto, tenho os lábios salgados dos últimos beijos que trocamos. Vou encontrar-te na cabine muda. Corre M, corre para lá.

Desta vez serei eu aquele que espera...

3 comentários:

Bel disse...

e será que ele vai esperar o tempo suficiente ?
e será que ela quer que ele espere ?

MM disse...

gostei... e quero ver mais, tou intrigado

Ágnes disse...

Eu também rurouni, eu também. ás vezes não sei que lhes faça. Já me pregaram umas quantas partidas...