domingo, 28 de dezembro de 2008

A Torre de Babel segundo a minha visão depois de morta

Sempre fui um bocadinho megalómana. Construí uma enorme torre, estruturada, forte. Há cimento e vigas nas bases e tudo o que se vê é fruto do trabalho dos homens. A torre é firme e eu também a construí, também houve esforço das minhas mãos. Enchi a torre de homens, de mulheres, de crianças e velhos (pensei excluir os adolescentes por serem demasiado complexos). Enchi a torre de tudo o que cheirava a gente. Quando me apercebi eram milhares. Mais milhares chegavam todos os dias. Um dia percebi que ninguém falava a mesma língua e que, pouco a pouco, o caos ia encontrando o seu conforto dentro da torre. À minha volta começaram a morrer pessoas: algumas cegaram outras sucumbiram simplesmente à desordem. Tentei perguntar a um homem qual era o caminho que me podia levar dali para fora: não obtive resposta. Dentro da enorme torre estruturada começou uma guerra. Havia armas e feridos e sangue e cada vez eram menos os milhares que lá viviam. Agora, neste sítio onde estou já não há som: não se ouvem as metralhadoras nem os gritos das crianças chacinadas. No sítio onde estou consigo ver o resultado da minha obra: as pessoas morreram todas, a língua do acordo não foi encontrada. Acabou por apodrecer tudo, tudo o que vivia, menos a torre porque era firme, forte e estruturada e havia cimento e vigas nas bases que a prendiam ao chão.

1 comentário:

Anónimo disse...

petisca, hei-de ir ver as tuas peças. E quando escreveres livros com estórias pequenas e cheias de mimos ou amarguras, hei-de lê-los todos devagarinho, como se deixasse derreter chocolate na boca.